domingo, 8 de maio de 2011

Saint James Ways - Espanha

Na manhã seguinte, cruzei a fronteira, entrando em território espanhol, na região da Galícia, uma região com interesses em separar-se da Espanha. A cidade chama-se Tui, onde muitos peregrinos escolhem por começar a jornada do Caminho Português. Já pude notar mais pessoas e uma diferença na sinalização do caminho, que era feito com um desenho de uma concha. Encontrei dois casais de canadenses, com os quais já haviam me encontrado em albergues anteriores. Segui na companhia deles, o que foi muito importante, pois aquela era a pior parte do caminho, pois o caminho, apesar de ser mais antigo, passava por uma zona industrial, mas foram apenas 6 km. Ao fim do caminho, tivemos de nos abrigar em uma parada de autocarro, pois começou uma chuva muito forte. Ao fim da tarde, alcancei o albergue da cidade de Redondela, que era muito bonito, num estilo antigo e com exposições artísticas no seu interior.


Não foi possível evitar a chuva no outro dia, estava caindo toda a manhã e eu, assim como todos, queríamos seguir em frente. Já não sabia que dia da semana era, me surpreendendo ao falar com um finlandês no caminho, que me disse que era sexta-feira santa. A chuva caia, estava esfriando e eu estava com muita fome, pois não consegui comprar o pequeno almoço (café da manha), já que era feriado e tudo estava fechado. Passando pela cidade de Pontevedra, consegui comprar um pão muito saboroso, que comi no albergue da cidade, mas queria esperar a chuva acalmar e seguir em frente. Cheguei num albergue improvisado, numa pequena vila, onde haviam apenas colchões para dormir, mas para o banho, uma boa água quente. Fui até o bar mais próximo e comprei um bocadillo, que foi minha janta e meu café da manhã. Chovia muito neste dia, por isso, não quis seguir adiante. A maioria dos peregrinos que via o pequeno albergue não ficava, pois não era confortável, mas ele encheu, já que muitos queriam se abrigar da chuva. Minha noite não foi muito boa, pois não estava confortável e fazia um pouco mais de frio.


Sai com chuva novamente, me perdi, tive de voltar, mas estava dando tudo certo. Minhas mãos estavam perdendo o sentido por causa da chuva e do frio, restando 50 km para chegar em Santiago de Compostela. Passei por Caldas de Reis, onde ganhei uma maçã numa fruteira e encontrei uma fonte de água quente, que são muito comuns nesta cidade. Lavei minhas mãos para esquentá-las e bebi daquela água para me aquecer. Me sentia melhor e pronto para continuar a caminhada até a cidade de Padrón. Este caminho era muito bonito, o melhor desde que entrei na Espanha. Já não chovia tanto, pois o sol ensaiava para brilhar novamente. Meu objetivo era chegar até Téo, 15km de Santiago, mas acabei ficando em Padrón, 25km, para descansar e me recuperar da noite anterior, sem falar que tive sorte pois só haviam alguns lugares, e não queria perder esta oportunidade. Neste albergue conheci mais pessoas, principalmente portugueses, sendo que foi ai que consegui minha boleia para regressar à Leiria.


Os últimos 25km foram percorridos com a presença do sol. Percorri sozinho até encontrar dois casais espanhóis, que estavam no albergue em Padrón. Fomos juntos pelos quilômetros finais até chegar em Santiago. Ao chegar na cidade onde acabava o meu caminho (pois há inúmeros caminhos para continuar), encontramos muita gente, devido ao feriado religioso, sendo esta cidade muito destinada nesses dias. Em frente a catedral de Santiago, senti algo estranho, pois haviam muitos peregrinos, parecendo que havia acabado a jornada, mas não era isso que eu queria, a jornada não poderia ter fim. Então resolvi seguir, fui atrás da minha boleia para voltar a Leiria. Fui até a catedral para procurá-los. Chegando lá, encontrei duas amigas que fiz no último albergue. Sentei junto delas e fui ligar para o pessoal. Não encontrei meu telemóvel, descobri que havia deixado no último albergue. Para minha sorte, minhas novas amigas voltariam até lisboa e me ofereceram boleia.

A volta foi outra sensação estranha. Comboio, carro, era tudo tão diferente daquela semana intensa pela qual passei, no ritmo da natureza, o meu ritmo. As paisagens eram lindas, sendo que por elas que eu havia passado a alguns dias atrás, bosques, montes, aldeias, vilas, enfim. Fizemos um bom retorno, com parada em Paredes de coura, onde fomos muito bem recebidos. Agradeço à Jutdite e a Tereza pela ajuda no retorno, pessoas de coração muito bom. Não posso esquecer de todas as amizades que fiz ao longo do caminho, seja simplismente por estarem na mesma direção, com o objetivo de caminhar, como diz meu amigo Conrado em sua música "Liberdade dos pássaros": "ansioso para chegar ao destino sem saber que o melhor é percorrer o trajeto". Meu destino é o meu próximo passo.

O caminho foi uma viagem além do próprio caminho, pensando em muitas coisas, as vezes em nada, lembrando, esquecendo, ao som do canto dos pássaros, da água correndo pelas fontes, num mantra contínuo, que trazia paz ao espírito. Tem coisas que não consigo descrever, o que senti, nem o que passei, mas quero continuar neste caminho, por este mundo afora, aproveitando a vida, vivendo o presente, o agora!

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